domingo, 18 de outubro de 2009

NATUREZA MORTA





A fruteira está lá linda
As bananas amarelíssimas
De uma luz solar
Chocando-se
Com a indecência luminosa das maçãs
Dói na vista de tanta beleza
O mamão quase maduro
E quase doce quase mel
Retirado hoje do quintal
Uma natureza que a partir de agora
Vai ficando lá morta
Cada vez mais morta
O bolo de passas envelhece
Incólume sobre o bufê
As jarras de suco vão
Ficando vazias sem você
Toda a beleza que outrora havia
Passa ao largo segue a ventania
Como um filme velho que arrebenta
Um efeito publicitário
Uma lente, um filtro anos 70
Sei que você nem vai se dá ao luxo
De perguntar o por que
Isso você nem vai querer saber
Você disse que ia voltar pelas manhãs
Todas as manhãs?
Pra encher de água amor e ração marinha
O lago dos peixes
As papoulas amarelas estão lá caindo
Precisando de feixes prismáticos de água
As ixóras, as bougainvilles e os bambuzeiros
Te aguardam ardentes de sol
A calopsita então, que já era sozinha
Agora então o que fará?
Vem quando o sol raiar cuidar desta casa
Desta casa que sem ti não há vida
E a cadela querida parida
Não vai mais passear pela praia da Avenida?
Quanto a mim, não se incomode
Uma coisa boa da idade
É passar por fortes emoções com naturalidade
Sem os grandes arroubos da juventude
No abissal niilismo da seca maturidade

CACATUA


O parceiro da minha cacatua morreu

e ela parou de cantar

Eu fiquei de comprar outro casamento

mas esqueci de lembrar

Ela ficou louca, surtou na solidão

nada lhe servia ao coração

Tirei sua gaiola da parede

e a coloquei embaixo do pomar

Hoje ela é cantante na vida,

pelos olhos embevecida arde de amar

CARTA PARA UMA AMIGA


por enquanto é melhor mesmo

nos falarmos por email ou pelo Orkut

a gente se encontra a qualquer momento

pelas escadarias daquele prédio quente

ou em algum evento a favor das minorias

comuniquei que estava saindo

e não era frescura minha

não somos obrigados a conviver

com o mau humor constante

ou vivermos sempre culpabilizados

por aquilo que não cometemos

ou, se cometemos, teve valor irrisório

e descartável perante a beleza da vida

e a construção de parcerias

(e não de subserviências)

eis que essas só visam o bem;

perante o próximo passo

eis que a vida anda para frente

cada um que lave sua persona como quiser

e não deságue mazelas no rio alheio

ganho pelas amizades que fiz

experiências que adquiri

enfrento suavemente

mudanças abruptas

o projeto deve dar certo

- porque o povo é credo -

exceto por essa "síndrome da vírgula"

que busca até o deslize dos pares

e provoca reações em cadeia

de temor, insegurança e revide

não há dinheiro que compense

a perda da paz de espírito

recomeço com o olhar no horizonte

não acredito no controle exacerbado

nem na crítica carregada de desconfiança

lembra-me George Orwell, em “1984”

ou, num viés avesso,

a elegância e o refinamento de Oscar Wilde

não guardo mágoas e mantenho admirações

são típicas reações às duras ações da vida

nem rancoroso, nem truculento

cuido do meu jardim,

passeio com os labradores pela praia

acendo a luz do espelho d'água

e nado meus peixes à noite

levo a cacatua para assistir

ao mar manhã cedinho

tenho ficado muito ao lado

da senhora minha mãe

usufruo de sua bondade e me enternece

o seu lento desistir das coisas

hoje é sábado, o dia amanhece

SAUDADE DO MEU...






(para Letícia Elena)


saudade do meu tempo vago
vontade de jogar tudo pro ar
conquistar pequenas coisas
mas ter tesão de curti-las
quero o meu tempo do mar
as gargalhadas noturnas
a calmaria de meu jardim
e esse inverno para sempre
pra que tanto sol de solidão
se a agua marinha salga
minha pele na beira
de um solar
lunar pra dois
quero penetrar, penetrar
e penetrar no verde marinho
lodacento e selvagem
percorrer caminhos delirantes
sob a luz da lua gozando no mar
preto e prata sob céu plúmbeo
ereto está o marfim do unicórnio
numa noite carnuda e molhada

HÁ MUITO TEMPO...




Há muito tempo que eu passo pela sua porta

Passo no carro som alto manhã tarde e noite

Desde sempre desejo desde o primeiro dia

Na porta da casa da mãe passo na praça paro

Quando você era garoto creio era você

Um dia falou arriscou parei marcou não rolou

Sempre que surge pago mico pra lhe ver passar

Agora que a gente ta se vendo na academia

Você logo no primeiro dia já rolou um lero

Altura de nordestino corpo de viking moreno

Rosto perfeito de selvagem beleza alagoana

Coxa grossa, bunda grande, tatoos nos braços

Brinco na orelha nesse bravo garoto casado

A loucura inocente é quem vai nos juntar

Vamos sair sim buscando alguma parada por aí

Depois disso eu que segure a onda a lombra

Pra rolar eu seu você vai ter que me admirar

Natural deixar rolar depois que a onda passar

Nem no primeiro dia precisa pintar essa parada

Vamos seguindo, construindo, desarmando

Quero invadir por dentro o mais puro de você

Ser seu amigo sensual deixa pra lá o espiritual

Perto da reta final piro de cara num cara banal

QUARTO ZERO




Começo do zero aqui

desse quarto lotado de mim

Coloquei a casa dentro dele,

amor e solidão

Não foi um ato Emily Dickinson

nem melancolismo

Quem estava dentro

não quer mais ficar nem voltar

Três vidas juntas numa

mesma sala parece sufocante

Meu cigarro cheira mal,

minhas músicas não prestam

Detesto novela das seis, das sete,

das oito e a tv aberta

Não conseguia fazer mais nada

na sala que fosse só eu

Um espaço só pra tanta gente

deixa-se de ser o que se é

Recolhi tudo que era meu

e vim embora pro meu quarto

Solidão a três é melhor assim

cada um no seu lugar

Visito a casa moro na rua

e só me encontro em mim

Não quero me separar não

eu gosto de morar junto

Não suportaria viver sozinho,

o silêncio é muito chato

Mas acabou a coletividade pessoal

no meio da sala

Brigas por tolices

discussões sem futuro sexo dos anjos

Deixa eu me reencontrar aqui

no meio dos meus sonhos

Como antigamente

quando eu era um jovem velho

COLINA


Você me lembra de mim

Quando estava começando

Olhos claros e crentes no amor

Sua blusa suada de dúvidas

Seu estilo largado e importante

Ah, do teu lado me sinto na Colina

Junto aos meus amigos lindos

Lendo poesias, tomando licor

e tocando violão à noite inteira

São olhos crentes de esperança

É certo que falta tudo quase e ainda

Mas o tempo está a teu favor

E isso é irretocável e definitivo

Há em tua pele a luz do trabalho

Que perfuma teu cheiro de ônibus.

LABRADOR




Adoro esse cheirinho de cachorro novo

Esse aconchego de gatinho mamando lóbulo

Traz uma lembrança de infância extasiada

De descanso e de mundinho fechado na família

É triste ter que se desfazer dos filhotinhos

Mas é importante saber que outras pessoas

Poderão tirar proveito dessa felicidade como nós

LIVROS ELETRÔNICOS DE ALEXANDRE CÂMARA




Louco de Amor
é o blog de poemas eletrônicos
do jornalista e escritor alagoano
Versos que remontam de 85
até os dias de hoje e que muitas vezes
desnorteiam e desconsertam
os leitores mais desavisados
pela coragem e sinceridade de Alexandre
em dizer o indizível
quer seja sobre seu sentimento
pelo objeto de desejo ou sobre si próprio.
O amor desmedido, a paixão idolatrada,
o sexo recorrente e a crítica social
são os pilares desse
poeta irrequieto

O blog Louco de Amor consta de quatro livros escritos ao longo de sua vida e só agora publicados eletronicamente: Louco de Amor, o mais recente que dá título ao blog; Pedra de Rio; Do Amor Inocente eCoração Selvagem.

O livro Do Amor Inocente traz Alexandre completamente imerso nas entranhas do amor profundo que ilumina o poeta. O livro revela o contexto de uma relação conturbada entre a submissão, a entrega total, a loucura, o desregramento dos sentidos e o desvario. Há ainda o desejo de continuar amando e de abandonar a relação mediante o sofrimento. Esse caleidoscópio de eventos faz Do Amor Inocente um livro ao mesmo tempo delicado e absurdo no enlace clássico de Eros e Tanatus. Foi publicado experimentalmente como trabalho de conclusão de curso da jornalista e escritora alagoana Patrícia Vasconcelos (Patrícia Pavas), que prefacia o livro.



PREFÁCIO



Alexe (Alexandre Câmara) expõe até as vísceras. Linguagem de músculos enrijecidos, dentes trincados de dor, olhos alucinados entre a morte e a paixão.
A voz de Alexe sai jorrada mas mantendo sempre uma coerência. A coerência dos iluminados e, por isso, “loucos”.
Ao se deter sobre seu amor, ele nos dá um exemplo clássico do que seja uma passionalidade; acrítico, abalado, impregnado de um sentimento que chega a anulá-lo, ele se põe servo e adora-o.
Em se tratando de características gerais, Alexe vem da tradição de Walt Whitman e Allen Ginsberg, ambos grandes poetas norte-americanos, que fizeram da estrada mais do que um divertimento, uma religião.
É na estrada que se encontra uma vida inesperada, multiforme, qualidades que se diluíram depois que o homem, através da Revolução Industrial, mecanizou em todos os níveis o nosso dia-a-dia. Seguir viagem, sem casa definida, sem emprego definido, foi um paliativo para uma sociedade que ameaçou “por tudo em ordem”, e cumpriu.
Assim como eles, no entanto dando uma versão personalíssima da literatura “on the road”, Alexe fala de drogas e de namoro de pessoas do mesmo sexo, não com uma atitude engajista, panfletária, mas de alguém que está além do “normal” sem ser anormal e, sobretudo, com naturalidade e paixão.

Patrícia Vasconcelos (Pavas)

LIVROS ELETRÔNICOS DE ALEXANDRE CÂMARA

Prefaciado por Lúcia Guiomar Porciúncula Teixeira, médica e escritora alagoana premiada,o livro Louco de amor, inserido no blog Louco de Amor ( http://www.alexandreloucoamor.blogspot.com) do jornalista e poeta alagoano Alexandre Câmara tem importância histórica eis que revela para o mundo globalizado um poeta à flor da pele com linguagem própria. Pela coragem e ousadia em falar de seus amores e desamores de maneira tão singular e reveladora. O blog consta ainda de outros três livros de Alexandre: Do Amor Inocente, Pedra de Rio (em parceria com o jornalista paulista João Foltran) e Coração Selvagem. Confira.

O blog Louco de Amor consta de quatro livros escritos ao longo de sua vida e só agora publicados eletronicamente: Louco de Amor, o mais recente que dá título ao blog; Pedra de Rio; Do Amor InocenteeCoração Selvagem.


PREFÁCIO

Caro Alexandre,

todo poeta é um mistério,

uma alegria

e a força de sua poesia

vem do não concordar

com o que é vil:

“O altar da loucura

reside no arriscar.”

“O mundo deveria

ser mais silencioso.”

“O amor é minha tragédia.”

–– Alexandre o imperador?

–– Não, Alexandre o grego, o fauno;

com seu sorriso de criança,

de percalços e de luz.

Feliz aquele

que tem a graça de sorrir;

precisamos de leveza, de beleza,

de amor e arte.

Os tempos e os templos,

não estão fáceis.

Poeta, sou mais nós.

Um abraço afetuoso,


Lúcia Guiomar Teixeira

Maceió, 17 de Outubro de 2005