Conheci Ângela RoRo ainda na adolescência. Ficava com a capa do seu primeiro disco na mão olhando para aquela beleza selvagem. De cara, achei um disco com algumas músicas boas outras chatas. Mas cada vez que ouvia, descobria uma letra linda, uma entonação perfeita, me acostumava com as harmonias menos populares, mais difíceis aos ouvidos.
Fiquei fã incondicional ao ler suas matérias. Primeira artista assumidamente homossexual da MPB. Podia esconder isso pra vender discos pros mais caretas mas não o fez. Como ela é compositora, letrista, ao escrever a música Tola Foi Você, não tinha como negar que havia sido feita para uma mulher. Pioneira, fez escola para Cassia Eller e Anna Carolina.
Inteligente, livre de qualquer preconceito, libertária, canta amores e desamores, a boemia e o desregramento, o amor desmedido mas também contextualiza seus versos a favor da paz e do amor. Foi a minha bíblia durante muitos anos. Prestava muito atenção no que ela dizia.
Fiquei muito triste quando em seu hiato profissional porque ela nos privou de sua louca lucidez e de muitos e muitos discos e sucessos que poderiam ter sido feitos mas não foram. Meio que órfão. Mas esse é o grande barato da vida: não ter que ser escravo nem mesmo da arte. Bom para ela que parou de beber e se drogar. Mas para ela; as únicas coisas que achava ruim nisso é que ela não se preocupava em divulgar seus discos.
Quando ela surgiu, era muito bonita. Uma das belezas mais estonteantes que já presenciei. Ficava pensando como ela podia deixar-se engordar muito; mas é que mesmo gorda ela ainda era muito bonita.
Lembro que a entrevistei aqui em Maceió há muitos anos atrás e ela já estava gorda. Mas sempre uma presença imponente. Quando ela surgiu no teatro para a coletiva já dissemos logo: É Ela!!! Alta, toda de branco.
Fui ao show do seu segundo disco, o Só nos Resta Viver. Nossa, que escândalo!!! Um blazer branco sobre um macacão preto ligadinho no corpo sem sutiã e uma bota branca. Cabelos grandes, e aquele sorriso lindo... Nossa, quando a luz refletiu seus olhos verdes e ela entrou fazendo com as duas mãos o "V" - símbolo hippie de paz e amor... era a imagem da perfeição!
Bonita, inteligente, louca, sincera, escrachada, debochada, sem papas na língua, foi ícone de uma geração que viu em sua postura a possibilidade também de se soltar e de dizer ao mundo: eu sou mais eu!